O texto é de autoria de Fernando Jardim e foi extraído na íntegra do site:
Nascido
em um acampamento cigano na Bélgica em 1910, Jean Reinhardt até os dez anos
viajava pela Bélgica, França, Itália e norte da África com sua família e a
caravana de ciganos à qual pertenciam. Seu pai era violinista, e desde bem novo
Django demonstrava grande habilidade com o instrumento, por vezes fazendo
pequenas apresentações junto com a banda liderada por seu pai. Aos quinze já
era a estrela do espetáculo cigano.
Alguns
anos mais tarde, quando tinha seus dezoito anos, a caravana onde dormia pegou
fogo e Django sofreu queimaduras graves. Parece que naquele dia sua mulher
havia enchido a caravana com flores secas e, ao se levantar à noite, Django
chutou uma lamparina, pondo fogo nas plantas secas.
Sua perna direita ficou tão
queimada que os médicos chegaram a considerar a amputação - que foi
enfaticamente descartada pelo paciente. A sua mão esquerda também ficou
bastante queimada, deixando os dedos anular e médio praticamente sem
movimentos. Django ficou bastante deprimido, e seu médico recomendou que
tocasse violão, por exigir da mão esquerda menos que o violino, e também como
forma de terapia física e mental. A medida teve grande efeito, e dois anos
depois Django já havia desenvolvido uma técnica própria incrível adaptada a sua
deficiência.
Por
volta de 1930 Django ouviu pela primeira vez os discos de Duke Ellington e Louis Armstrong.
Ficou tão encantado com o swing do jazz que decidiu formar, em 1934, junto com
o violinista Stéphane Grapelli, o Quintette
du Hot Club de France. Participavam do quinteto, além de Grapelli e Django,
seu irmão Joseph e Roger Chaput no violão, mais Louis Vola no contrabaixo. A
fama do quinteto começou a se espalhar, inclusive além-mar, e músicos
americanos como Benny Carter e Coleman Hawkins
não perdiam a oportunidade de tocar com ele em suas visitas a Paris. Quando
começou a segunda guerra mundial o quinteto estava excursionando pela
Inglaterra e voltou imediatamente para a França, com exceção de Grapelli, que
ficou por lá. De volta a Paris, o violino foi substituído pelo clarinete de Hubert
Rostaing.
Em
1943, Django casou-se com Sophie Ziegler, com quem teria um filho um ano mais
tarde, Babik, que também seguiu a carreira musical. Consta que Django era um
grande gastador. Torrava qualquer dinheiro que caísse em sua mão - geralmente
em algum tipo de aposta ou na mesa de bilhar, onde também demonstrava muita
habilidade.
Com
o fim da guerra, Grapelli voltou a integrar o quinteto, que agora se preparava
para partir em uma excursão pelos EUA organizada por Duke Ellington.
A visita culminou com a apresentação do quinteto no Carnegie Hall ao lado do
bandleader. Na segunda metade da década de 40, Django fez inúmeras gravações,
tanto nos EUA como na França, que lançaram seu estilo definitivamente para o
resto do mundo e para sempre na história da música. Era uma das figuras mais
respeitadas de Paris.
Porém em 1951, aparentemente cansado dos
aborrecimentos que cercavam a comercialização de sua música, pôs seu violão de
lado e aposentou-se na pequena cidade francesa de Samois-sur-Seine, onde passou
o resto de seus dias a pintar e pescar. Só voltou a gravar um mês antes de sua
morte, em maio de 1953, causada por um derrame fulminante.
Assista ao vídeo: