quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Série TopGuitar - Wes Montgomery

Ontem encerramos a série de reportagens "A História do Jazz" e hoje vamos começar uma nova série que eu chamos de série "TopGuitar", onde vamos falar sobre a vida de alguns dos maiores guitarristas que já habitaram este planeta. Vamos começar com um dos pioneiros da guitarra, e é talvez o guitarrista que mais influenciou a guitarra jazz atual, estamos falando de Wes Montgomery, o polegar mais rápido do oeste.

Este texto é de autoria de Jesse Gress, e foi extraído da edição de nº 32, lançada em setembro de 1998 da revista Guitar Player Brasil.

Wes nasceu em Indianápolis, e foi um autodidata. Depois de ter tentado tocar um violão tenor de 4 cordas, partiu para a guitarra quando tinha 19 anos. Em poucos meses já conseguia tocar todos os solos de Charlie Christian do álbum "Solo Flight" de Benny Goodman. Em 1948 teve uma rápida passagem pela Big Band de Lionel Hampton e nos anos seguintes ficou longe dos palcos, apenas apurando o seu estilo.

De 1957 a 59 formou o Mastersounds ao lado de seus irmãos Buddy e Monk. Eles atuavam muito na área de Indianápolis e chegaram até a gravar alguns discos. Mas as coisas só começaram mesmo a acontecer quando Wes foi descoberto pelo produtor Orrin Keepnews, através de uma sugestão do saxofonista Cannonball Adderley. Keepnews trouxe Wes para o selo Riverside, onde ele gravou em 1959 "The Wes Montgomery Trio". Estas gravações foram enormes êxitos artísticos e muito aclamadas pela crítica.

Em 1961, Wes tocou no Monterey Jazz Festival - e em uma série de outras gigs em São Francisco - como membro do grupo do saxofonista John Coltrane. Este grupo reunia alguns gênios do Jazz na época, mas infelizmente não há nenhum registro de gravações desta formação.

Apesar do entusiasmos dos críticos, os discos de Wes não eram muito bons de venda. Quando a Riverside fechou em 1964, ele passou 4 anos produzindo música mais acessível, e lançou uma série de álbum super orquestrados pelas gravadoras Verve e A&M. O sucesso teve seu preço, as versões de Wes sobre temas "pop" como "Tequila", "California Dreaming" e muitos outros, foram bombardeadas pelos críticos. Não eram maus discos, tudo o que Wes produziu tem seu mérito artístico, mas em geral todos concordam que o período mais criativo deste guitarrista foi durante as gravações pela Riverside.

Apesar de ser um músico sem formação teórica, Wes era absolutamente fluente na linguagem jazzistica e conseguiu criar uma música fantástica. Mesmo assim sentia-se um pouco inseguro nos palcos, mas isto jamais foi percebido pelo público, haja visto que era um dos poucos guitarristas que tocava sorrindo. Apesar da ausência de estudo formal, seus caminhos melódicos e harmônicos o colocaram anos luz à frente de seus contemporâneos. Ele passeava por standards, clássicos do Bebop e baladas com muita tranquilidade, mas o blues era a base do seu estilo. Aventurando-se muito além dos 3 acordes tradicionais do blues, compôs inúmeros temas apoiado nesta influência.

Os solos de Wes seguiam muitas vezes uma fórmula com três níveis de pegada: Primeiro alguns choruses com linhas melódicas normais; em seguida, melodias em oitavas, uma de suas marcas; e então o clímax, com   um trecho matador com chord melodies, ou melodias feitas com acordes.

Wes morreu em 15 de junho 1968.

Vale a pena assistir.

http://www.youtube.com/watch?v=TRsMzCnQNpo&feature=related



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

... continuação - A História do Jazz - Os Young Lions


A partir do surgimento da família Marsalis, o jazz na sua forma clássica começou a ganhar força e cresceu ano a ano, na medida em que foram aparecendo outros, também jovens e talentosos músicos, que se propuseram a tocar o verdadeiro jazz. Foi então que surgiu o termo Young Lions, que se referia a esse grupo de músicos por defenderem com “unhas e dentes” as tradições do jazz. Faziam parte dos Young Lions: Os irmãos Marsalis, Winton, trompetista e Bradford, saxofonista, além dos trompetistas Terence Blanchard, Wallace Roney, Roy Hargrove, Philip Harper, Marlon Jordan e mais recentemente, Nicholas Payton, os pianistas Marcus Roberts e Benny Green e os saxofonistas Donald Harrison, Christopher Hollyday e Joshua Redman.

A presença dos Young Lions  melhorou a imagem do jazz. Os músicos de jazz não mais pertenciam à uma classe marginal, que precisava se drogar para conseguir tocar a sua própria música . Eles resgataram mais do que a música, mas a dignidade e a respeito que o mercado havia tirado do Jazz e seus músicos. Além disso, outros gigantes que andavam esquecidos voltaram a ter o seu espaço como jazzistas, como os pianistas Herbie Hancock e Chick Corea e os saxofonistas Joe Henderson e Sonny Rollins.
Na contra-mão dos esforços dos Young Lions, surgiam também outras formas, um tanto duvidosas, de Jazz. Na verdade, quando um álbum não tinha uma definição simples sobre a qual gênero pertencia, muitas vezes por se tratar de fusões de diversos estilos, era, e ainda é até hoje, comum classificar como Jazz, mas na verdade essa era apenas uma das influências daquele novo gênero que surgia, pois havia muitas outras como R&B, Soul, Blues, Funk, Rock. Isso aconteceu com muitos grupos e artistas que faziam música instrumental cheia de ritmos e solos, mas que traziam muito pouco Jazz em seu contexto. Só para citar os mais conhecidos, o aclamado grupo Spyro Gyra dos saxofonistas David Sanborn e Grover Washington Jr e o saxofonista Kenny G.

Outra tendência, esta menos significativa, foi a New Age music. Essencialmente uma música de fundo e relaxante que sempre permanecia num mesmo padrão sonoro, servindo como "healing music," em contraponto ao heavy metal. A linguagem da New Age teve origem nos solos de piano de Keith Jarrett. Em razão da ausência dos blues como tema para os músicos de New Age, esse estilo é considerado fora da linha principal do jazz, servindo principalmente como música para meditação.

Texto elaborado por Renato Maran

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

... continuação - A HISTÓRIA DO JAZZ - O Surgimento do fusion e o jazz-rock


A palavra "fusion," vaga em si mesma (fusão de que?), tem sido confundida como se fosse um depósito de estilos, quando na verdade, durante os anos 70 houve um vigoroso movimento de mudanças na música americana. Mas, na realidade, o que é fusion? Inicialmente denominado jazz-rock, o termo fusion foi erroneamente utilizado, durante anos, para abrigar outras formas musicais que eram mais intimamente relacionadas com o pop digestivo ou R&B, (como Kenny G por exemplo). Mesmo o termo jazz-rock foi adaptado para acomodar grupos de pop/rock no final da década de 60, que introduziram metais e palhetas como tempero musical (Blood, Sweat and Tears, Chicago, The Ides of March). Seguindo a versão mais tradicional, fusion foi uma mistura da improvisação jazzística com outros ritmos, timbres e a energia do rock, agora mais direcionado e mais transcendental.
A conclusão a que se chega, após uma análise do jazz-rock em termos musicais, é que as primeiras obras de jazz-rock que possuem validade enquanto jazz são também as últimas, a saber, as gravações de Miles na virada dos anos 60 para os 70. Depois disso, com o advento da fusion, temos uma fase em que se fez música de qualidade mas que foi perdendo a identidade jazzística e, mais tarde, uma fase em que a própria qualidade musical sofreu uma queda pronunciada.
Não se pode negar que existiram inúmeros músicos da mais alta competência técnica na fusion, principalmente nos anos 70 (alguns dos quais ainda bastante ativos), podemos citar como exemplos o guitarrista Pat Metheny, o violinista Jean-Luc Ponty, o baterista Billy Cobhan, o tecladista George Duke, os baixistas Jaco Pastorius e Stanley Clarke, para ficar apenas nos mais conhecidos. Também é justo admitir que certos conjuntos eram verdadeiras máquinas instrumentais, em termos de energia, entrosamento e sofisticação. Porém essa qualidade técnica raramente veio acompanhada de profundidade e coerência propriamente jazzísticas.
Depois, nos anos 80, com a música pop de caráter mais comercial. O som acústico cedeu quase que totalmente o lugar aos instrumentos eletrônicos. Em algum ponto desse percurso, o jazz-rock deixou de ser um terreno de experimentação radical e vital. Existem alguns indicadores estritamente musicais e perfeitamente objetivos dessa perda de identidade jazzística. O swing jazzístico se perdeu, dando lugar a ritmos mais “quadrados” e óbvios. Todas as nuances na exposição de um tema, todos os matizes timbrísticos, todos os desenhos melódicos detalhados, toda a coerência na improvisação - tudo isso desapareceu. Curiosamente foi nos anos 80, período em que muitos já consideravam que o Jazz estava com os dias contados, que surgiu os irmãos Marsalis, Winton e Bradford Marsalis, dois irmãos de formação erudita, nascidos em New Orleans, exatamente onde tudo começou, filhos de um pai músico, que levantaram a bandeira das tradições do Jazz e defendem até hoje o estilo clássico, sem misturas, sem instrumentos eletrônicos e vestindo paletó e gravata, tudo inspirado nas raízes da música.

Texto elaborado por: Renato Maran

Fonte: sites EJAZZ e CLUBE DO JAZZ

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A HISTÓRIA DO JAZZ - PARTE IV (O surgimento do FUSION)

No início dos anos 60 os músicos de jazz tinham cada vez mais dificuldade para encontrar trabalho. Naquele momento a atenção dos jovens estava totalmente voltada para o novo ritmo chamado ROCK’N’ROLL, e as pessoas mais velhas tornavam-se mais caseiras, a grande maioria interessada em programas de TV. Os músicos, desesperados, aceitavam qualquer trabalho que aparecia.  Tocavam em bares, em orquestras de estudos de TV e também acompanhando roqueiros em gravações de discos. Houve até quem abandonasse a música de vez, enquanto outros partiram para a Europa atrás de público. Todas as vertentes do jazz co-existiam dentro de um espaço cada vez mais estreito: o Diexieland, o Swing, o Bebop, o Hardbop, o Cool jazz, o Modal jazz, o Free jazz, brigavam entre si pelo mesmo público, além da mais recente forma de jazz criada pelo saxofonista John Coltrane (foto), o Avant-garde, um estilo cheio de fé e espiritualidade. A obra mais marcante deste movimento foi “A Love Supreme” gravada em 1964. O álbum vendeu centenas de milhares de cópias em poucas semanas, trazendo esperanças aos instrumentistas, porém John Coltrane morreu em 1966, vítima de câncer.
E foi no mesmo ano de 1964 que os Beatles pisaram pela primeira vez na América, e com isso a distância entre o jazz e o grande público tornara-se maior ainda. A última gravação de jazz que chegou a ocupar o primeiro lugar nas paradas de sucesso foi “Hello Dolly”, interpretada por Louis Armstrong, superando, por algumas semanas, os garotos de Liverpool. Depois disso, jamais uma gravação de jazz conseguiu tal proeza.  No final da década de 60 o gênio incansável Miles Davis formou um quinteto que seria considerado a melhor banda de todos os tempos. O time trazia: Wayne Shorter (sax tenor), Ron Carter (baixo), Tony Willians (bateria) e o garoto prodígio Herbie Hancock (piano).
Com esse grupo Miles começou a traçar novos rumos para a sua música. Até que em 1970 descartou totalmente os padrões rítmicos do jazz tradicional e criou fusões com a música moderna. Nascia o FUSION. Um estilo que trazia as últimas inovações do jazz associadas a batidas inspiradas no FUNK e no ROCK, inclusive com a utilização de equipamentos eletrônicos como sintetizadores, baixo elétrico, guitarra elétrica, etc. O álbum que marca o início desta nova era chama-se “Bitches Brew”.


Até a próxima edição...



Texto elaborado por: Renato Maran

Fonte: Ken Burns

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A HISTÓRIA DO JAZZ - Parte III ( o Cool Jazz e o Modalismo de Miles Davis)


Miles Davis nasceu em 1926, em um berço privilegiado – se comparado à grande maioria dos músicos negros daquela época – morava no lado leste da cidade de St. Louis, Illinois, em uma bela casa em um bairro de brancos com cozinheira e empregada, seu pai era um conhecido dentista e fazendeiro. Desde criança, para poder ser aceito, adotou uma aspereza exacerbada, característica que o acompanhou para o resto de sua vida. Começou a tocar trompete aos 13 anos de idade, a aos 18 já tinha talento suficiente para acompanhar a dupla Parker/Gillespie, quando estiveram em St. Louis. Logo depois foi pra Nova York onde gravou com os reis do BeBop e fez algumas parcerias com músicos talentosos da época, como o pianista Thelonious Monk.


Em 1949,começou a freqüentar o apartamento do influente pianista e arranjador Gil Evans, no Harlem, onde conheceu músicos como os saxofonistas Gerry Mulligan (foto) e Lee Konitz. Miles se uniu a eles pra formar um noneto e começou a ensaiar as peças que fariam parte de seu primeiro disco. A gravadora Capitol Records logo se interessou por estas experiências musicais e contratou o grupo pra entrar no estúdio e gravar “BIRTH OF THE COOL”, e como o próprio nome diz era o surgimento de uma nova vertente da música, o que passou a ser chamado de COOL JAZZ. As inovações deste novo estilo buscavam direções distintas do BeBop, com ritmos contagiantes, porém menos avassaladores, e melodias intensamente envolventes. As notas longas e limpas do trompete de Miles Davis demonstravam claramente suas intenções. Como não possuía técnica suficiente pra tocar como Dizzy Gillespie, resolveu criar o seu próprio som apoiando-se em timbre e melodia, como ele mesmo disse certa vez: “Quero tocar poucas notas, mas as notas certas”. E esta foi apenas a primeira de muitas grandes inovações deste gênio.

Após a morte de Charlie Parker em 1954, o jazz começou a perder espaço. O grande público demonstrava cada vez menos interesse em acompanhar estas evoluções, e os críticos já começavam a acreditar no fim de uma era. Porém, contrariando todas as probabilidades, surgia uma nova geração de músicos ousados que forçavam os limites da música para muito mais além de onde os Bebopers haviam parado, até atingir limites extremos como o abandono total das noções convencionais de ritmo, harmonia e cadências pré-combinadas. Poderíamos citar como exemplos os saxofonistas Sonny Rollins (foto), John Coltrane e Ornette Colleman, além é claro de Miles Davis que já vinha surpreendendo a cada gravação. 
Neste período, a música estava mudando rapidamente, desdobrando-se de maneiras inesperadas, dando origens a facções opostas e intensas discussões sobre a liberdade artística e a verdadeira natureza da criatividade. A definição do que era jazz ou não passou a ser cada vez mais imprecisa.

Miles Davis era um pesquisador sempre ansioso por novas descobertas. Em 1959 assinou com a gravadora “Columbia Records” e lançou “KIND OF BLUE”, que logo tornou-se o disco mais vendido de todos os tempos, na categoria jazz. Neste álbum, Miles introduziu um elemento que mudaria a música para sempre: o MODALISMO. Trata-se da liberdade harmônica, desvencilhando-se das sequências de acordes tonais marcantes no jazz até então. Através da harmonia modal abria-se um universo novo para a criação musical. E Miles Davis mais uma vez traçava o futuro que em breve ele próprio faria questão de reinventar.



Até a próxima edição...

Texto escrito por: Renato Maran
Fonte: Ken Burns

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

...continuação - A HISTÓRIA DO JAZZ - Parte II


Em 1940 o período da grande depressão já havia sido superado e o swing era tocado em toda parte, nas rádios, nos cinemas e nas jukeboxes. Porém, um grupo de jovens músicos desafiadores, ousados e insatisfeitos, agia silenciosamente, se reunindo nas madrugadas de Nova York, para aperfeiçoar um novo modo de tocar, entre eles estavam: o virtuoso trompetista Dizzy Gillespie (foto) e o pianista Thelonious Monk. Suas idéias musicais combinavam muito bem, eles buscavam ritmos frenéticos e harmonias complexas, porém faltava-lhes um item muito importante pra chegar à música que procuravam: a melodia... E é aí que entra em cena o garoto de Kansas City, Charlie Parker, que, com suas melodias irresistíveis, alterou a forma de tocar de toda uma geração de saxofonistas.
                Enquanto a Alemanha de Hittler detonava a sua guerra na Europa, um pequeno clube chamado “Minton’s Play House” situado à rua 118 do Harlem, em Nova York, passou a ser o ponto de encontro dos jazzistas, porque o gerente da casa dava-lhes liberdade total para tocar o que quisessem. Ali eram realizados duelos musicais eletrizantes, longe dos palcos e dos salões de swing, os músicos passavam noites e noites de puro improviso.  Neste momento, os Estados Unidos ainda não estavam em guerra, mas 1 ano depois, em 1941, o país entrou definitivamente em combate, em defesa da liberdade e pelo fim do ódio racial praticado pelos nazistas contra os judeus. Ironicamente, todos os pelotões das forças armadas americanas eram segregados.
                jazz dentro dos territórios ocupados no intuito de neutralizar esta “arma” americana, porém o esforço foi em vão, e alguns temas como “In The Mood” de Glenn Miller tornaram-se verdadeiros hinos de guerra.
O jazz também foi à guerra, tornando-se o “símbolo da liberdade”, aliás, essa música que os alemães detestavam e chamavam de “a arte da raça sub-humana” foi uma importante arma americana, pois muitos músicos e bandleaders foram convocados só para tocar em bases militares espalhadas pelo mundo. Estes espetáculos musicais em plena guerra traziam momentos de tranqüilidade aos soldados em combate, que, ao ouvir às bandas de jazz recordavam-se de suas famílias e suas casas. Os alemães chegaram a proibir o uso da palavra
                
Os anos que se seguiram foram de escassez em todo o país devido ao “esforço de guerra”. A população enfrentou racionamento de energia elétrica, gasolina e borracha, tirando muitas bandas da estrada. As fábricas de jukeboxes, de instrumentos musicais e até as gravadoras foram fechadas temporariamente por serem consideradas desnecessárias naquele momento. Com isso, a nova música que já vinha sendo desenhada pelos jazzistas do bairro do harlem permaneceu desconhecida para o resto do mundo. E somente alguns anos depois, em dezembro 1945, Charlie Parker fez suas primeiras gravações. Estavam com ele: Dizzy Gillespie (tompete/piano), Max Rouch (bateria), Curly Russell (baixo) e um garoto chamado Miles Davis (trompete). Entre as faixas gravadas “Koko” obteve destaque, lançando Parker no mercado do jazz.
               
Nascia o BeBop. Um novo estilo revolucionário que seguia na contra-mão do swing. Charlie Parker (esquerda) e Dizzy Gillespie (direita), que foram as figuras mais importantes desse momento diziam que queriam ter seu trabalho reconhecido como forma de arte, e não como um simples entretenimento.  Essa música era brilhante, porém exigente e complicada, rápida e furiosa, melodias familiares não eram bem vindas, tudo dependia da inspiração, da ousadia, habilidade e da sofisticação musical do solista.
                
O BeBop reinou absoluto durante a segunda metade da década de 40. Todos queriam tocar como Charlie Parker e Dizzy Gillespie, com exceção do imprevisível, incansável e inovador trompetista Miles Davis, que já fazia experiências melódicas em busca da sua própria música. O talento, a longevidade e a coragem de Miles Davis contribuíram muito pra que ele fosse, na opinião de muitos, o líder mais importante de toda a história do jazz, pois, a partir desse momento, ele forçaria incessantemente todas as fronteiras da música até o fim dos seus dias...
Este será o assunto da próxima edição, até lá... 

Texto de autoria de Renato Maran Maran
Fonte: Ken Burns

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A HISTÓRIA DO JAZZ - Parte I


O jazz nasceu da interação entre as contradições da América (EUA), entre o ter e o não ter, a felicidade e a tristeza, simplicidade e elegância, o campo e a cidade, o negro e o branco. Da mistura de povos que vinha da velha Europa e da velha África, certamente, esta música só poderia ter surgido ali, naquele mundo totalmente novo, na terra das oportunidades, e o mais surpreendente, criada por um povo que não era livre no país da liberdade.             
Esta arte é baseada na improvisação e, por isso, se reinventa a medida em que é criada, podemos defini-la como: a materialização instantânea de um processo criativo. Desde os primeiros grupos de jazz, que surgiram em Nova Orleans na segunda década do século XX, esta música já foi a mais popular de norte a sul dos Estados Unidos, mas também já teve que enfrentar a tempos difíceis como a lei seca que proibia a produção e comercialização de bebidas alcoólicas, e a Segunda Grande Guerra Mundial que parou o país.
           
Porém, para entendermos como surgiu o jazz, precisamos voltar um pouco mais no tempo, até o séc XIX, período em que a cidade de Nova Orleans, por situar-se em posição geográfica estratégica, era a mais cosmopolita dos EUA. Pessoas do mundo inteiro desembarcavam ali: piratas, bandidos, aventureiros, jogadores de carteado, exilados, franceses, hispânicos, alemães, ingleses, judeus, indianos, chineses, italianos, antilhanos, africanos, enfim, todos viviam lado a lado nos vilarejos e cortiços, havendo todo o tipo de integração entre eles.
            A partir da década de 1890, os ritmos musicais que viriam a se fundir para o surgimento do jazz já estavam ganhando forma. Um desses estilos recebeu o nome de RAGTIME, era cheio de ritmo e animado, trazia influências de todas estas culturas misturadas em um balanço inovador e sincopado. O outro surgiu nas lavouras de cana e algodão na região do delta do Rio Mississipi, recebia o nome de BLUES, por se tratar de canções de lamentos entoadas pelos escravos. O BLUES desembarcou em Nova Orleans trazendo os ingredientes que faltavam para formar a mistura: sensibilidade, expressividade, simplicidade e improviso.
           
Boddy Bolden
Há diversas explicações a respeito do nome JAZZ, assim como também há vários músicos da época que se auto-intitulavam os criadores do JAZZ. Os dois significados mais interessantes para este nome são: O primeiro vem do perfume usado pelas prostitutas de Nova Orleans, chamado JASMIN, abreviando-se a primeira sílaba e dobrando a letra ‘s’ temos a palavra JASS exatamente como era usada no início, com ‘ss’ no lugar de ‘zz’; e o segundo vem de uma expressão africana que significava ‘andar rápido ou correr’. Com relação a quem foi o criador do JAZZ, o que se sabe é que o primeiro músico que viveu em Nova Orleans e inovou a forma de tocar trompete, aproximando-se muito da música que, posteriormente viria a ser chamada de JAZZ, foi Buddy Bolden (foto). A partir daí vieram muitos nomes que, sem dúvida contribuíram muito para o progresso e o desenvolvimento da música. Nomes como: “Jelly Roll” Morton – o primeiro pianista a transcrever suas músicas para as partituras; Sidney Bechet – o primeiro clarinetista virtuoso; Fred Keppard – em 1915 foi convidado para ser o primeiro músico de jazz a entrar em uma gravadora, mas recusou porque teve medo de que todos pudessem ouvir as gravações e roubar suas idéias; Louis Armstrong – responsável por sintetizar todas as influências do jazz e conduzi-lo a uma nova direção, transformando-o em um estilo, o que posteriormente viria a ser chamado de SWING; Duke Ellington – o maior compositor da história do jazz, atingindo a impressionante marca de 2 mil obras; e Bix Beiderbecke – provou que os brancos podiam tocar jazz como os negros, e caiu em depressão porque, em virtude da segregação, nunca pode participar de uma banda de negros.
            No final da segunda década do séc XX, alguns músicos de Nova Orleans migraram para Chicago, onde tocavam para o público branco. E na mesma época em Nova York já havia uma grande concentração de músicos, principalmente nos bairros do Harlem e Timesquare.
           
Em meados dos anos 20 o jazz já era tocado por toda parte. Com o progresso da indústria fonográfica e do rádio, a música podia chegar em toda parte. Porém, o crescimento acelerado da economia trouxe a quebra da bolsa de Nova Yorque em 1929, e uma crise financeira sem precedentes na história. A “era do jazz” parecia estar chegando ao fim, foram anos de depressão e miséria. A indústria fonográfica que esteve a ponto de fechar as portas foi salva por um novo estilo de jazz, dançante e ‘comercial’, o SWING, responsável por 70% das vendas em todo país, saltando de 10 milhões de discos vendidos em 1932 para 50 milhões em 1939. Graças a nomes como: Benny Goodman, Fletcher Henderson e Chick Webb.
            Mas o SWING colocava a expressão individual e o improviso quase sempre em segundo plano, o que incomodava alguns músicos. E foi no meio-oeste, em Kansas City no Misouri, que surgiu um estilo chamado STOMP, parecido com o swing, porém inundado de blues e totalmente improvisado. Daí surgiram: Count Basie, Lester Young, Coleman Hawkings e um garoto misterioso chamado Charlie Parker que logo transformaria esta música em algo nunca imaginado, o BE BOP, desviando mais uma vez os rumos da história.
            Este será assunto da nossa próxima edição. Não percam a continuação da HISTÓRIA DO JAZZ.

Texto de autoria de Renato Maran (guitarrista e professor de música).
Fonte: Ken Burns.