O jazz nasceu da interação entre as contradições da América
(EUA), entre o ter e o não ter, a felicidade e a tristeza, simplicidade e
elegância, o campo e a cidade, o negro e o branco. Da mistura de povos que
vinha da velha Europa e da velha África, certamente, esta música só poderia ter
surgido ali, naquele mundo totalmente novo, na terra das oportunidades, e o
mais surpreendente, criada por um povo que não era livre no país da liberdade.
Esta arte é baseada na improvisação e, por
isso, se reinventa a medida em que é criada, podemos defini-la como: a
materialização instantânea de um processo criativo. Desde os primeiros grupos
de jazz, que surgiram em Nova Orleans na segunda década do século XX, esta
música já foi a mais popular de norte a sul dos Estados Unidos, mas também já
teve que enfrentar a tempos difíceis como a lei seca que proibia a produção e
comercialização de bebidas alcoólicas, e a Segunda Grande Guerra Mundial que
parou o país.
Porém, para entendermos como surgiu o jazz, precisamos voltar um pouco mais no tempo, até o séc XIX, período em que a cidade de Nova Orleans, por situar-se em posição geográfica estratégica, era a mais cosmopolita dos EUA. Pessoas do mundo inteiro desembarcavam ali: piratas, bandidos, aventureiros, jogadores de carteado, exilados, franceses, hispânicos, alemães, ingleses, judeus, indianos, chineses, italianos, antilhanos, africanos, enfim, todos viviam lado a lado nos vilarejos e cortiços, havendo todo o tipo de integração entre eles.
A partir da
década de 1890, os ritmos musicais que viriam a se fundir para o surgimento do
jazz já estavam ganhando forma. Um desses estilos recebeu o nome de RAGTIME,
era cheio de ritmo e animado, trazia influências de todas estas culturas
misturadas em um balanço inovador e sincopado. O outro surgiu nas lavouras de
cana e algodão na região do delta do Rio Mississipi, recebia o nome de BLUES,
por se tratar de canções de lamentos entoadas pelos escravos. O BLUES
desembarcou em Nova Orleans trazendo os ingredientes que faltavam para formar a
mistura: sensibilidade, expressividade, simplicidade e improviso.
Boddy Bolden |
No final da
segunda década do séc XX, alguns músicos de Nova Orleans migraram para Chicago,
onde tocavam para o público branco. E na mesma época em Nova York já havia uma
grande concentração de músicos, principalmente nos bairros do Harlem e
Timesquare.
Em meados dos anos 20 o jazz já era tocado por toda parte. Com o progresso da indústria fonográfica e do rádio, a música podia chegar em toda parte. Porém, o crescimento acelerado da economia trouxe a quebra da bolsa de Nova Yorque em 1929, e uma crise financeira sem precedentes na história. A “era do jazz” parecia estar chegando ao fim, foram anos de depressão e miséria. A indústria fonográfica que esteve a ponto de fechar as portas foi salva por um novo estilo de jazz, dançante e ‘comercial’, o SWING, responsável por 70% das vendas em todo país, saltando de 10 milhões de discos vendidos em 1932 para 50 milhões em 1939. Graças a nomes como: Benny Goodman, Fletcher Henderson e Chick Webb.
Mas o SWING
colocava a expressão individual e o improviso quase sempre em segundo plano, o
que incomodava alguns músicos. E foi no meio-oeste, em Kansas City no Misouri,
que surgiu um estilo chamado STOMP, parecido com o swing, porém inundado de
blues e totalmente improvisado. Daí surgiram: Count Basie, Lester Young,
Coleman Hawkings e um garoto misterioso chamado Charlie Parker que logo
transformaria esta música em algo nunca imaginado, o BE BOP, desviando mais uma
vez os rumos da história.
Este
será assunto da nossa próxima edição. Não percam a continuação da HISTÓRIA DO
JAZZ.Texto de autoria de Renato Maran (guitarrista e professor de música).
Fonte: Ken Burns.
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