quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A HISTÓRIA DO JAZZ - Parte I


O jazz nasceu da interação entre as contradições da América (EUA), entre o ter e o não ter, a felicidade e a tristeza, simplicidade e elegância, o campo e a cidade, o negro e o branco. Da mistura de povos que vinha da velha Europa e da velha África, certamente, esta música só poderia ter surgido ali, naquele mundo totalmente novo, na terra das oportunidades, e o mais surpreendente, criada por um povo que não era livre no país da liberdade.             
Esta arte é baseada na improvisação e, por isso, se reinventa a medida em que é criada, podemos defini-la como: a materialização instantânea de um processo criativo. Desde os primeiros grupos de jazz, que surgiram em Nova Orleans na segunda década do século XX, esta música já foi a mais popular de norte a sul dos Estados Unidos, mas também já teve que enfrentar a tempos difíceis como a lei seca que proibia a produção e comercialização de bebidas alcoólicas, e a Segunda Grande Guerra Mundial que parou o país.
           
Porém, para entendermos como surgiu o jazz, precisamos voltar um pouco mais no tempo, até o séc XIX, período em que a cidade de Nova Orleans, por situar-se em posição geográfica estratégica, era a mais cosmopolita dos EUA. Pessoas do mundo inteiro desembarcavam ali: piratas, bandidos, aventureiros, jogadores de carteado, exilados, franceses, hispânicos, alemães, ingleses, judeus, indianos, chineses, italianos, antilhanos, africanos, enfim, todos viviam lado a lado nos vilarejos e cortiços, havendo todo o tipo de integração entre eles.
            A partir da década de 1890, os ritmos musicais que viriam a se fundir para o surgimento do jazz já estavam ganhando forma. Um desses estilos recebeu o nome de RAGTIME, era cheio de ritmo e animado, trazia influências de todas estas culturas misturadas em um balanço inovador e sincopado. O outro surgiu nas lavouras de cana e algodão na região do delta do Rio Mississipi, recebia o nome de BLUES, por se tratar de canções de lamentos entoadas pelos escravos. O BLUES desembarcou em Nova Orleans trazendo os ingredientes que faltavam para formar a mistura: sensibilidade, expressividade, simplicidade e improviso.
           
Boddy Bolden
Há diversas explicações a respeito do nome JAZZ, assim como também há vários músicos da época que se auto-intitulavam os criadores do JAZZ. Os dois significados mais interessantes para este nome são: O primeiro vem do perfume usado pelas prostitutas de Nova Orleans, chamado JASMIN, abreviando-se a primeira sílaba e dobrando a letra ‘s’ temos a palavra JASS exatamente como era usada no início, com ‘ss’ no lugar de ‘zz’; e o segundo vem de uma expressão africana que significava ‘andar rápido ou correr’. Com relação a quem foi o criador do JAZZ, o que se sabe é que o primeiro músico que viveu em Nova Orleans e inovou a forma de tocar trompete, aproximando-se muito da música que, posteriormente viria a ser chamada de JAZZ, foi Buddy Bolden (foto). A partir daí vieram muitos nomes que, sem dúvida contribuíram muito para o progresso e o desenvolvimento da música. Nomes como: “Jelly Roll” Morton – o primeiro pianista a transcrever suas músicas para as partituras; Sidney Bechet – o primeiro clarinetista virtuoso; Fred Keppard – em 1915 foi convidado para ser o primeiro músico de jazz a entrar em uma gravadora, mas recusou porque teve medo de que todos pudessem ouvir as gravações e roubar suas idéias; Louis Armstrong – responsável por sintetizar todas as influências do jazz e conduzi-lo a uma nova direção, transformando-o em um estilo, o que posteriormente viria a ser chamado de SWING; Duke Ellington – o maior compositor da história do jazz, atingindo a impressionante marca de 2 mil obras; e Bix Beiderbecke – provou que os brancos podiam tocar jazz como os negros, e caiu em depressão porque, em virtude da segregação, nunca pode participar de uma banda de negros.
            No final da segunda década do séc XX, alguns músicos de Nova Orleans migraram para Chicago, onde tocavam para o público branco. E na mesma época em Nova York já havia uma grande concentração de músicos, principalmente nos bairros do Harlem e Timesquare.
           
Em meados dos anos 20 o jazz já era tocado por toda parte. Com o progresso da indústria fonográfica e do rádio, a música podia chegar em toda parte. Porém, o crescimento acelerado da economia trouxe a quebra da bolsa de Nova Yorque em 1929, e uma crise financeira sem precedentes na história. A “era do jazz” parecia estar chegando ao fim, foram anos de depressão e miséria. A indústria fonográfica que esteve a ponto de fechar as portas foi salva por um novo estilo de jazz, dançante e ‘comercial’, o SWING, responsável por 70% das vendas em todo país, saltando de 10 milhões de discos vendidos em 1932 para 50 milhões em 1939. Graças a nomes como: Benny Goodman, Fletcher Henderson e Chick Webb.
            Mas o SWING colocava a expressão individual e o improviso quase sempre em segundo plano, o que incomodava alguns músicos. E foi no meio-oeste, em Kansas City no Misouri, que surgiu um estilo chamado STOMP, parecido com o swing, porém inundado de blues e totalmente improvisado. Daí surgiram: Count Basie, Lester Young, Coleman Hawkings e um garoto misterioso chamado Charlie Parker que logo transformaria esta música em algo nunca imaginado, o BE BOP, desviando mais uma vez os rumos da história.
            Este será assunto da nossa próxima edição. Não percam a continuação da HISTÓRIA DO JAZZ.

Texto de autoria de Renato Maran (guitarrista e professor de música).
Fonte: Ken Burns.

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