A palavra
"fusion," vaga em si mesma (fusão de que?), tem sido confundida como
se fosse um depósito de estilos, quando na verdade, durante os anos 70 houve um
vigoroso movimento de mudanças na música americana. Mas, na realidade, o que é
fusion? Inicialmente denominado jazz-rock, o termo fusion foi erroneamente
utilizado, durante anos, para abrigar outras formas musicais que eram mais intimamente
relacionadas com o pop digestivo ou R&B, (como Kenny G por exemplo). Mesmo
o termo jazz-rock foi adaptado para acomodar grupos de pop/rock no final da
década de 60, que introduziram metais e palhetas como tempero musical (Blood,
Sweat and Tears, Chicago, The Ides of March). Seguindo a versão mais
tradicional, fusion foi uma mistura da improvisação jazzística com outros
ritmos, timbres e a energia do rock, agora mais direcionado e mais
transcendental.
A conclusão a que se chega, após uma análise do jazz-rock em termos
musicais, é que as primeiras obras de jazz-rock que possuem validade enquanto
jazz são também as últimas, a saber, as gravações de Miles na virada dos anos
60 para os 70. Depois disso, com o advento da fusion, temos uma fase em que se fez
música de qualidade mas que foi perdendo a identidade jazzística e, mais tarde,
uma fase em que a própria qualidade musical sofreu uma queda pronunciada.
Não se pode negar que existiram inúmeros músicos da mais alta
competência técnica na fusion, principalmente nos anos 70 (alguns dos quais
ainda bastante ativos), podemos citar como exemplos o guitarrista Pat Metheny,
o violinista Jean-Luc Ponty, o baterista Billy Cobhan, o tecladista George
Duke, os baixistas Jaco Pastorius e Stanley Clarke, para ficar apenas nos mais
conhecidos. Também é justo admitir que certos conjuntos eram verdadeiras
máquinas instrumentais, em termos de energia, entrosamento e sofisticação.
Porém essa qualidade técnica raramente veio acompanhada de profundidade e
coerência propriamente jazzísticas.
Depois, nos anos 80, com a música pop de caráter mais comercial. O som
acústico cedeu quase que totalmente o lugar aos instrumentos eletrônicos. Em
algum ponto desse percurso, o jazz-rock deixou de ser um terreno de
experimentação radical e vital. Existem alguns indicadores estritamente
musicais e perfeitamente objetivos dessa perda de identidade jazzística. O swing
jazzístico se perdeu, dando lugar a ritmos mais “quadrados” e óbvios. Todas as
nuances na exposição de um tema, todos os matizes timbrísticos, todos os
desenhos melódicos detalhados, toda a coerência na improvisação - tudo isso
desapareceu. Curiosamente foi nos anos 80, período em que muitos já consideravam
que o Jazz estava com os dias contados, que surgiu os irmãos Marsalis, Winton e
Bradford Marsalis, dois irmãos de formação erudita, nascidos em New Orleans,
exatamente onde tudo começou, filhos de um pai músico, que levantaram a
bandeira das tradições do Jazz e defendem até hoje o estilo clássico, sem
misturas, sem instrumentos eletrônicos e vestindo paletó e gravata, tudo
inspirado nas raízes da música.
Texto elaborado por: Renato Maran
Fonte: sites EJAZZ e CLUBE DO JAZZ
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